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Rolhas recolhidas
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Árvores plantadas

Desafios e Ameaças

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Situações como o declínio dos montados devido a doenças e pragas, o aumento do risco de incêndio florestal face às alterações climáticas e expansão urbanística e a promoção de novos empreendimentos turísticos, podem afectar a integridade dos montados enquanto ecossistemas de elevada importância ambiental, colocando também em causa a única actividade económica em que Portugal é líder mundial, pelo que devem se unir esforços para manter o desenvolvimento sustentável dos montados.

Também em termos globais a utilização de vedantes sintéticos em substituição da rolha de cortiça natural em parte do sector vitivinícola pode fazer perigar a manutenção deste importante ecossistema que é o montado de sobro.

No entanto, a clara aposta da utilização da rolha de cortiça natural em vinhos de qualidade, associada à promoção da certificação da gestão florestal sustentável através do reconhecimento dos sistemas mundiais de certificação, como o FSC, traz novas esperanças à manutenção dos montados.

A distribuição do Sobreiro encontra-se próximo do litoral centro e Sul de Portugal, a qual está associada a uma grande pressão populacional e consequente especulação imobiliária, reflecte uma pressão urbanística, industrial e de projectos turísticos-imobiliários que atentam o ordenamento do território, situações que frequentemente são favorecidas através de licenciamentos e autorizações pelos Municípios e pelos últimos Governos de Portugal, existindo vários projectos em que a Quercus teve que recorrer aos tribunais administrativos para reposição da legalidade.

Existem também alguns problemas nos montados da Bacia Mediterrânica, nomeadamente com o chamado declínio dos povoamentos de sobreiro e também de azinheira em nalgumas zonas.

A investigação que tem sido realizada no nosso País e também em todos os países suberícolas onde o fenómeno ocorre, tem sempre concluído que as causas da mortalidade que se verifica nalgumas zonas residem num complexo de factores, muitos deles de origem antrópica, com a má gestão realizada em algumas propriedades, sendo as condições ecológicas um factor determinante no desencadear da situação, como o stress hídrico provocado por períodos de seca ou pluviosidade anormal que pode favorecer a propagação de doenças.

Um dos principais problemas encontra-se associado às más prácticas agrícolas na gestão de alguns montados, nomeadamente com fortes intervenções como a gradagem debaixo das copas com grades de discos pesadas que cortam as raízes pastadeiras superficiais, podendo fazer propagar doenças como os fungos patogénicos. Esta técnica cultural da gradagem a qual é tradicionalmente utilizada com alguma frequência, também destrói a regeneração natural com os novos sobreiros que nascem no sob coberto do montado, comprometendo a renovação e perenidade do montado.

Também as podas excessivas das árvores florestais, provocam feridas nos troncos que funcionam como portas de entrada para doenças e pragas, sem que exista um particular interesse dessa actividade na gestão dos montados, que não seja a obtenção de lenha.

Estão identificadas muitas medidas para minimizar o declínio e recuperar a vitalidade do arvoredo, as quais passam sobretudo a uma alteração de comportamentos na gestão de alguns montados.

É fundamental que os proprietários promovam junto dos trabalhadores agrícolas, a implementação das regras da gestão florestal sustentável, com o recurso também à aplicação das conhecidas boas práticas suberícolas na instalação de novos povoamentos, nas operações de poda, na extracção de cortiça, no aproveitamento do solo e na criação de gado sob coberto, dado que só assim é possível a subericultura portuguesa poderá manter a perenidade dos montados para as gerações vindouras.

Assim, torna-se fundamental que o Estado português defenda devidamente os montados de sobro promovendo o desenvolvimento sustentável e estratégico de um sector que é tão importante para a economia nacional, garantindo a perenidade deste ecossistema florestal.

Texto de Domingos Patacho